Repensando o Capital Social das empresas em tempos de pandemia
É possível enfrentar dificuldades sem deixar o compromisso com o outro de lado
São Paulo, 05 de abril 2020. A sociedade como um todo, foi duramente atingida pela pandemia do Covid 19. Todos querem ter uma previsão sobre o desenrolar da pandemia e uma resposta a inúmeras perguntas como por exemplo quando voltaremos à normalidade, como fica meu emprego?
Muito pouco, no entanto, se tem noticiado e discutido sobre as tantas iniciativas sociais do terceiro setor que basicamente vivem e exercem suas ações com apoio da iniciativa privada.
Em momentos de crise como a que estamos vivendo, com prováveis mudanças drásticas no cenário econômico, as decisões tomadas por grande parte dos empresários têm como tônica, minimizar os gastos e despesas, gerar o quanto puderem de caixa, cortar custos e eliminar o que for supérfluo para o andamento dos negócios. Nesta linha de raciocínio, o apoio ao terceiro setor dado por tantas empresas é geralmente um dos primeiros a serem cortados. Assim, grande parte das organizações sociais do terceiro setor serão obrigadas a reduzir ou encerrar suas atividades. As consequências são enormes mas nem sempre tão perceptíveis a curto prazo.
Programas de educação, apoio social, proteção ambiental, puericultura , trabalho junto a jovens e adolescentes, programas de apoio à saúde e higiene para comunidades mais carentes entre outros ou são reduzidos drasticamente ou simplesmente, por falta de apoio, deixarão de existir. Para um país em desenvolvimento como o nosso é muito triste assistir e vislumbrar a falta de recursos, que fará com que o terceiro setor deixe de atuar com eficiência em momentos onde sua presença seria indispensável.
Estamos em época de reflexão e caberia aos empresários repensarem como contribuir diretamente ou indiretamente para os trabalhos voltados ao social e à sustentabilidade uma vez a situação se normalizando. As organizações sociais do terceiro setor não podem ficar simplesmente à mercê dos ganhos e desempenho das empresas, que, por sua vez, também dependem em muito de variáveis externas e que não sob controle e atuação direta dos gestores.
Ao invés das empresas, uma vez normalizada a situação da economia, fazer suas doações diretamente vinculadas a seus lucros e geração de caixa, adotariam uma nova política de contribuição para o terceiro setor. As empresas poderiam constituir uma parte dos recursos de caixa destinados às atividades sociais, em um “ Fundo Social”. Este fundo, iria ao longo dos anos aumentar seu capital e gerar dividendos. Estes por sua vez seriam canalizados ao terceiro setor e estariam menos suscetíveis aos resultados de curto prazo das empresas. Assim, o terceiro setor poderia continuar a receber apoio das empresas em épocas de maior dificuldade, pois o fundo não seria diretamente afetado.
Cabe sublinhar que um Fundo Social precisaria ter um volume de recursos razoáveis para gerar renda suficiente a ser canalizada para ações sociais. Talvez um grupo de empresas poderia se unir em torno da ideia e criar um fundo único. Os sindicatos patronais poderiam agir nesse sentido.
A constituição de um Fundo Social, que entre outros faz parte do capital social de uma empresa, não seria um substituto absoluto de doações que deveriam continuar a ser realizadas. Precisamos pensar no médio e longo prazos e não apenas somente no dia de amanhã que poderá ser desastroso como o que estamos passando no presente momento.
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