Pensando o ESG no Brasil
Nas décadas de 60 nos Estados Unidos e 70 na Europa, em especial na França, começaram a surgir os primeiros movimentos a favor da elaboração e publicação dos Balanços Sociais das empresas. Nos EUA, a pressão partiu da sociedade civil decepcionada com as consequências da Guerra do Vietnã exigindo que as empresas apresentassem ações positivas em relação ao universo social. Na França e em alguns outros países europeus, o movimento brotou nos partidos políticos que começavam a se preocupar com questões sociais e ambientais e a atuação empresarial neste contexto. Surgia o debate em torno da Responsabilidade Social das empresas. No ano de 1970 foi publicada a primeira lei na França exigindo a publicação do Balanço Social para empresas de grande porte. O que começaria a ser também determinante não seria apenas a apresentação do lucro empresarial mas igualmente o seu desempenho social. Em nosso país o assunto começou a ser discutido com maior intensidade a partir da década de 90. Alguns projetos de lei foram aprovados, organizações civis apresentaram modelos de Balanços Sociais mas o assunto nunca foi regulamentado por aqui. Algumas corporações dedicaram importantes notas a seus balanços ou apresentaram seus balanços sociais próprios. Essa iniciativa mostrava a preocupação das empresas em relação ao universo social (meio ambiente e sociedade) já incorporada em suas estratégias.
A questão da sustentabilidade começou a despontar também na década de 60. Inicialmente havia um desdém geral em relação ao assunto, em especial por parte dos empresários. Dez anos depois começaram a surgir as primeiras regulamentações gerando grande resistência. Nos anos de 1980 são percebidos os primeiros benefícios econômicos e de imagem por parte do empresariado, sendo que a partir do início do século XXI o assunto é incorporado de fato na gestão empresarial. São percebidos, de forma mais concreta, os impactos positivos nas questões ambientais, sociais e econômicas. As crises desencadeadas a partir dos anos de 1980 pelos grandes escândalos corporativos ligados à corrupção, fizeram com que a Governança Corporativa tomasse novos contornos no ambiente empresarial. A transparência, a prestação de contas aos stakeholders, a preocupação em relação à equidade e a responsabilidade social deveria ser a linha mestra a ser seguida pelos Conselhos. Mas os esforços contínuos das últimas décadas, por parte dos agentes econômicos e governamentais em relação ao social, ambiental e de governança, infelizmente não foram suficientes para frear a deterioração sócio ambiental no Brasil. Esta deterioração foi maior que os esforços reparadores. A comunidade científica já alertava há muito tempo da necessidade da redução da emissão de gases na atmosfera e para o confisco do CO2 (Carbono). A sociedade como um todo clamava pela equidade social e uma sociedade mais justa. No mundo empresarial, além de aspectos de governança, questões de reciclagem , redução do consumo e conceitos da economia circular vieram a se somar aos esforços da sustentabilidade. Foi através do mercado financeiro, que em 2004 o Secretário Geral das Nações Unidas Kofi Annan publicou em parceria com o Banco Mundial, o Pacto Global, dirigido inicialmente a 50 CEOs de instituições financeiras. Este Pacto cunhou pela primeira vez o conceito do ESG ( Environment, Social and Governance) que está ligado aos 17 objetivos dos ODS (Objetivos do Desenvolvimento Sustentável) publicados anos mais tarde (2015) pela ONU aos seus membros. Apesar de não ser regulatório, o pacto fornece o suporte aos diferentes acordos internacionais firmados em relação ao saneamento climático e ambiental da Terra. O ESG foi uma fórmula feliz de unir os movimentos descritos acima que evoluíram a partir dos anos 60/70. O que diferencia o ESG é a pressão dos consumidores e do mercado financeiro internacional sobre as empresas e governos. A conscientização em relação ao consumo de produtos e serviços fornecidos por empresas ESG ou a propensão de investir em empresas preocupadas com o meio ambiente, o social e a governança torna-se cada vez mais importante. Sociedade civil e governos ficam mais atentos em relação ao meio ambiente, social e governança. Oxalá que mais e mais empresas constituam a partir de agora áreas específicas ou comitês de ESG em suas estruturas organizacionais, algo que ainda engatinha em nosso país, para que exista um efetivo engajamento em relação a esses desafios.
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