Thomas Lanz
Desde os primórdios do séc. XVII quando a Companhia das Índias Orientais instituiu aquilo que seria o primeiro conselho empresarial, a governança assistiu a uma enorme evolução, mas nunca deixou de representar os interesses de seus sócios, sejam estes de grandes corporações, empresas estatais de economia mista ou familiares. O foco destes conselhos sempre foi o do desenvolvimento, crescimento e sobrevivência das instituições que os instituíram.
Nos anos recentes, pudemos acompanhar a olho nu, como o cenário sócio econômico e de sustentabilidade, teve um papel relevante na condução dos negócios empresariais. Em consequência as demandas em relação ao órgão máximo da governança corporativa também foram se modificando. Ainda está em nossa lembrança, quando de forma jocosa e pejorativa se comentava que reuniões de conselho eram mantidas para que os conselheiros fossem tomar seu cafezinho e receber o seu “ jeton”. Mas, os grandes escândalos de corrupção que vieram à tona a partir das últimas décadas do século passado, fizeram que os sócios das empresas e a sociedade como um todo, passassem a exigir delas, transparência, lisura e prestação de contas. Os conselhos em consequência começaram a se transformar. As pautas de reuniões passaram a elencar assuntos de cunho estratégico, desempenho econômico financeiro e auditoria. Em seguida, temas ligados à sustentabilidade e conformidade (compliance) foram sendo acrescidos à lista das matérias de interesse. Em geral, as empresas foram criando procedimentos que trouxessem maior transparência a seus stakeholders.
Recentemente, na economia 4-0, uma nova variável a ser considerada pelos conselheiros entra em campo. É a da imprevisibilidade! Até então os cenários eram bastante previsíveis facilitando de certa forma o exercício de planejamento e processo decisório de médio / longo prazos. Mas, com a grande e rápida evolução tecnológica, surgem de uma hora para outra, novas formas de se fazer negócios, novos tipos de empresas, produtos disruptivos e assim por diante. Começaram a surgir questionamentos muito sérios em relação às empresas ditas “ tradicionais”. Será que elas sobreviverão com seus produtos e mindset no ambiente da economia 4-0? Estariam os conselhos aptos e preparados a sugerir novos direcionamentos às suas empresas?
Eis que surge a pandemia do Coronavirus para jogar uma pá de cal sobre a previsibilidade em relação ao futuro das organizações. Hoje, nada é mais previsível e, certamente, acordaremos no pós-pandemia vendo cenários totalmente diferentes na ordem econômica mundial, na maneira de se fazer negócios, na estrutura organizacional das empresas, no marketing, nos serviços e demanda de produtos.
Nada mais lógico neste contexto do que repensar o que se pode esperar dos futuros conselhos das empresas. Vamos elencar alguns pontos:
- As organizações necessitarão buscar permanentemente a inovação. Deverão ser inovadoras por excelência, não comportando mais conselhos formados apenas por experientes senhores aposentados da era da previsibilidade. Conselheiros mais jovens deverão participar dos conselhos.
- A tecnologia da Informação e da Inovação deverão encabeçar a lista das prioridades nos debates das reuniões.
- O Conselho deverá, a partir de suas discussões ser uma fonte de provocações, para os gestores da empresa. Comitês deveriam ser formados, para trabalharem permanentemente nos novos assuntos com a presença de um conselheiro.
- Palestrantes deveriam ser convidados com frequência para atualizar o conselho em relação a novos temas da atualidade, tendência dos negócios e tecnologias.
- Talvez o mais importante seja que os conselhos trabalhem buscando o crescimento e o desenvolvimentos dos negócios em ambientes de cenários muito menos previsíveis. Isto por si só já exige uma importante transmutação.
- Por fim, os conselhos precisam avaliar muito bem os negócios do qual fazem parte, sobretudo as empresas de áreas de negócios tradicionais. A concentração destes setores tornará a sobrevivência e competitividade de pequenas e médias organizações muito mais difíceis. Talvez, neste caso, não se deva descartar a possibilidade de vender o negócio ou para buscar novas frentes de atuação.
Assim, certamente teremos um novo formato de Conselhos pós pandemia - um avanço em relação ao conselho da Companhia das Índias Orientais do séc. XVII.
Bravo Mr. Lanz. excelentes diretrizes.