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Conselhos do Futuro



Na metade do século passado nas rodas de homens de negócios, se comentava em tom jocoso que um conselheiro era aquele que aparecia nas reuniões de Conselho, assinava o livro de presença, tomava um cafezinho, batia um papinho e ia retirar o envelope com o devido  " jeton " no caixa da empresa. É claro que o conselheiro tinha que ser uma figura de certa importância e sobrenome no meio empresarial. 

Já nas décadas de 70 em diante, em empresas que mantinham suas reuniões de Conselho com certa regularidade   buscavam-se conselheiros que tinham acesso às autoridades, ao governo. Eram épocas bastante difíceis para o empresariado. Vivía-se em tempos de ditatura militar e as regras impostas às empresas em relação à importação, produção, reserva de mercado e assim por diante eram severas e restritas. A inflação aumentava   mês a mês e fazer negócios dependia muitas vezes de

“benesses" e "exceções" concedidas pelo governo. 

Portanto ter  conselheiros junto de si -   bons "abridores  de portas" - era de muita valia. O conselheiro não precisava na realidade entender do negócio. Precisava sim, com as informações disponíveis e conhecimento de causa que obtinha nas reuniões de Conselho, partir a campo. 

Na década de 90, começamos a observar novos ares no mundo dos negócios. Assistimos a uma interessante evolução e mudança no ambiente empresarial. A abertura do mercado às importações e um maior contato das empresas brasileiras com empresas de outros países fez com que uma maior profissionalização da gestão fosse necessária. A maior complexidade no mundo dos negócios se fez valer. 

A maior competição nos mercados nacionais e internacionais demandaram novas expertises das pessoas que  auxiliavam os dirigentes empresariais no estabelecimento das estratégias para seus negócios. A maioria  das empresas ainda era de capital fechado, sob a figura jurídica de SA de capital fechado ou limitada. 

Não mais de 500 empresas eram de capital aberto com suas ações negociadas em Bolsa. O número permanece até hoje. Portanto o país nunca teve um número maior do que 500 Conselhos frente a milhares de empresas existentes no Brasil. Aos poucos foram sendo introduzidos nas empresas,  cópia de modelos existentes em economias desenvolvidas, como os Conselhos não deliberativos. Estes conselhos tinham e ainda têm o papel de assessorar e aconselhar os donos de empresas em suas estratégias empresariais. 

No Brasil, 90% das empresas brasileiras ainda são familiares e cada vez mais são instalados Conselhos nas empresas. 

 Instituições de renome como a Fundação Dom Cabral, Getúlio Vargas, Insper e sobretudo o IBGC (Instituto Brasileiro de Governança Corporativa), vem ministrando cursos e se dedicando ao assunto, com o objetivo de formar profissionais  especializados para exercer  posições de conselheiros consultivos ou de administração.                               Até pouco tempo as empresas   buscavam conselheiros  pessoas com grande experiencia na administração de empresas e visão estratégica. 

Entretanto, pesquisas realizadas nos últimos anos  continuam a apontar que a maioria dos conselheiros se debruça  mais sobre o desempenho financeiro - econômico das empresas assim como os resultados operacionais alcançados, deixando para um  segundo plano a discussão estratégica. Podemos dizer que a tônica daquilo que é discutido recai muito mais sobre o desempenho passado do que ideias e sugestões de novos negócios, mercados ou produtos. 

Há poucos anos ingressamos na Economia 4.0. A disrupção, as consequências da introdução de novas tecnologias,  o surgimento de inúmeras startups, que fogem totalmente do modelo tradicional de empresa passaram a  exigir que as empresas chamadas de tradicionais, também precisassem se adaptar ao novo. 

Isto vale dizer, que a composição do grêmio que assessora os dirigentes empresariais, não pode mais bater na mesma tecla de 15 ou 20 anos atrás. 

Os Conselhos precisam ser iluminados com o novo e o disruptivo. Temas antes  desconhecidos como a Inteligência Artificial ou a formação de estratégias com startups são pautados nos assuntos a serem discutidos em Conselhos. 

Esta tendência mostra mais uma vez que uma nova classe de conselheiros precisa compor um  Conselho.   

O ideal é que a experiência do tradicional se junte à vivência do disruptivo para que da discussão das ideias emanem estratégias que coloquem as empresas num caminho de permanente evolução e vanguarda no mundo dos negócios. 

Os conselheiros de nossos dias têm uma responsabilidade enorme em relação a empresas que aconselham se comparado àqueles que tinham o compromisso de simplesmente assinar  apenas o livro de presença e retirar o seu jeton no caixa.


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