Falar de aposentadoria em empresas familiares não deveria ser tabu
O fundador de uma empresa familiar tem objetivos muito precisos em relação ao seu negócio. Sua empresa precisa, sobreviver, crescer, gerar lucros e assim por diante. No Planejamento Estratégico o caminho da empresa em relação ao seu desenvolvimento futuro também é discutido e planejado com o envolvimento dos principais gestores da empresa. Entretanto, por melhor que seja elaborado o planejamento de médio longo prazos, na maioria das vezes há uma lacuna grande e pouco perceptível que é o futuro do líder da empresa.
O que será e como serão conduzidos os negócios sem a presença do "dono"? Como será o dia seguinte? Talvez o único a refletir de fato sobre esta questão é o próprio dono que, em geral, procrastina o quanto o tema. Alguns, com certo sarcasmo, respondem quando o assunto é levantado: "no dia em que eu morrer os filhos irão se virar para resolver os desafios".
De outro lado é importante notar que, apesar estar afastado definitivamente da empresa, os princípios, crenças e valores do dono ficam.
Em muitas empresas seu ideário foi registrado nas Políticas ou Protocolos empresariais/familiares .
Um processo saudável de elaboração destas políticas e procedimentos se faz com a participação do fundador da empresa, que irá contribuir para a elaboração destes documentos discutindo e expondo suas ideias a respeito dos diferentes assuntos.
Estudos atestam que os valores e princípios do fundador são o principal esteio para a perpetuação do negócio familiar. Eu diria que a participação do fundador neste processo é tranquila e eles o fazem de bom grado. O todo muda de figura quando o fundador da empresa precisa expor seus pensamentos, refletir e discutir sobre a continuidade de sua obra, o negócio familiar, quando não estiver mais presente fisicamente ou incapacitado de dirigir a empresa.
Seria muito importante que o "dono" do negócio se envolvesse em determinadas discussões que permitissem delinear o futuro da empresa, enquanto estivesse vivo e cem por cento lúcido e consciente de suas orientações e decisões.
Por exemplo, os pioneiros têm muita dificuldade em conversar sobre aquilo que chamo de Plano de Contingencias. Este documento deveria estabelecer as regras para a condução dos negócios a partir do momento em que o fundador falte. Ao discutir este assunto com fundadores e família, muitas vezes nos deparamos com situações onde não existem procurações para determinados assuntos ou medidas que precisam ser tomadas. Até autorização digital para pagamentos muitas vezes está concentrada em uma só pessoa: o dono.
Decisões que até então eram tomadas unilateralmente serão tomadas por quem? Haverá um colegiado para decidir determinados assuntos? Basta refletirmos um pouco para nos deparar com inúmeras situações que poderão travar o andamento de uma empresa na falta de seu chefe. Igualmente importante é a discussão e elaboração de um Plano de Transição.
Escolher um sucessor, às vezes é tarefa simples. Mas preparar o caminho para um dia ele de fato assumir a responsabilidade do negócio pode ser tarefa de anos. A continuidade da empresa dependerá entre outros do preparo de um bom Plano de Transição, sua operacionalização e sua transparência. Os stakeholders (clientes, fornecedores, bancos, funcionários, etc.) precisam saber o que se está pensando fazer em relação ao futuro do negócio. Isto gera segurança para todos e fortalece a imagem da empresa. Por fim, gostaria ainda de mencionar a importância da reestruturação societária a partir da criação de pessoas jurídicas. A passagem de bastão do sucedido ao sucessor poderá ser bastante simples neste cenário. O fundador do negócio não poderá deixar de buscar apoio profissional para criar suas holdings objetivando a proteção patrimonial e pessoal de seus sócios e familiares.
O Conselho da empresa caso exista precisa assegurar que o ditado do fundador: "no dia em que eu morrer os filhos irão se virar para resolver os problemas" nunca se torne realidade. O quanto ele puder resolver em vida e no seu devido tempo, mais tranquila e efetiva será a passagem do bastão.
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