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Qual é exatamente a diferença entre ser sócio ou dono de uma empresa familiar?



Imaginemos um empreendedor que a partir de uma ideia de um produto ou serviço monta o seu próprio negócio. No início, talvez a própria casa será a sede da empresa que, ao longo do tempo, irá crescer. No começo há grande sobreposição entre o que é particular, familiar e a empresa. O caixa, por exemplo, pode ser único. O negócio não paga aluguel para o próprio fundador pelo espaço ocupado e assim em diante. Aos poucos, a empresa vai crescendo, alguns funcionários são contratados e o fundador, de forma intuitiva, vai administrando a atividade.

Tudo ainda corre dentro de uma certa informalidade. O empreendimento carece de relatórios e o termômetro do andamento da atividade empresarial é medido pelo saldo de caixa. Este, em geral, regula o que pode ser ou não pode ser gasto para manter o todo funcionando e crescendo. Este mesmo caixa sustenta os gastos familiares. O carro do dono também é utilizado para o negócio, insumos podem ser utilizados para fins particulares e assim por diante. Não existe uma divisão entre o particular e o empresarial. As coisas se entrelaçam tanto para o fundador como para seu cônjuge e filhos. Para eles, também é natural usufruir das coisas da empresa como se fossem suas.

A empresa vai crescendo e o fundador precisa agora departamentalizar o negócio, criar cargos e responsabilidades com níveis de autoridade bem definidos, administrar por processos, etc.

O caixa por exemplo não pode mais ser único. No momento que o relatório da movimentação financeira mostrar que recursos são destinados a gastos ou investimentos familiares, o dono da empresa irá perceber que aquilo que é destinado à família deverá se originar de honorários ou distribuição de lucros. O veículo da empresa também não deverá mais ser utilizado pela família e assim por diante. Aos poucos a pessoa jurídica que há muitos anos não funciona mais na casa da família, irá impor os seus limites e as regras de convivência entre família e empresa. Regras de funcionamento entre família, negócio e propriedade precisam ser criadas. Talvez seja o momento apropriado de se buscar auxílio externo e desenvolver protocolos que irão disciplinar o relacionamento entre família e a pessoa jurídica da qual o fundador é cotista. Por exemplo, protocolos que estabelecerão regras de distribuição de lucros, remuneração de sócios e seus familiares ou utilização de bens e serviços da empresa demarcarão exatamente o que é permitido ou não. Se as regras forem seguidas e respeitadas pelos membros da família, estaremos falando de sócios, que se respeitarão entre si e seguirão o que combinaram em conjunto quando criaram os protocolos. Podemos traçar um paralelo com a profissionalização de uma empresa. No momento em que os membros de uma família agem como sócios do negócio respeitando - o como uma pessoa independente podemos tranquilamente dizer que a empresa está profissionalizada.

Infelizmente temos observado muitas empresas familiares onde os sócios e suas famílias se consideram simplesmente donas de seu negócio. Regras não são obedecidas e respeitadas gerando conflitos e desordem; empresas são descapitalizadas em prol do enriquecimento particular em prejuízo dos negócios; busca-se fortalecer a imagem da família por pura vaidade em detrimento do fortalecimento da imagem institucional: a estrutura organizacional não é respeitada havendo intromissão de familiares alheios ao negócio em sua gestão. Cabe ao fundador da empresa ter por objetivo estratégico transformar sua família em sócia do negócio que fundou . Isto requer disciplina e respeito às regras de jogo semeadas ao longo dos anos. Cabe ao Conselho, no presente ou no futuro quando for criado, dar continuidade a esse processo. Sem isto, a empresa pode desaparecer.



São Paulo, 07 de março 2021



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