Autoria: Thomas Lanz, é sócio da Lanz Consultores e Wellington Barreto é sócio da Guardian Transição de Gerações
Já testemunhamos, por diversas vezes, em reuniões de Conselho de famílias empresárias, situações em que o fundador se mostrou muito reticente em discutir os resultados da empresa com seus filhos.
Os motivos alegados desta postura foram vários. Por exemplo: se souberem os lucros da empresa, isto lhes poderá "subir" à cabeça; ao verem os resultados de caixa vão imaginar que não precisarão trabalhar mais em suas vidas; em caso de dificuldades financeiras acham que a solução é simples, bastando ir ao banco fazer empréstimos" e assim por diante. Perante os filhos, o líder da família, que ao mesmo tempo conduz seus negócios, tem o importante papel de dar uma educação financeira aos filhos. Não estou me referindo a cursos particulares e caseiros de análise de balanço, fluxo de caixa e DRE's, mas sim algo um pouco mais complexo, que vem a ser o entendimento sobre o que significam os números financeiros. O dinheiro carrega muitas qualidades diferentes.
Das mais positivas às mais nefastas. Em geral, pensamos no dinheiro apenas como moeda de troca. Mas, na realidade, ele simboliza e representa muito mais do que isso.
Por exemplo, tivemos várias personalidades corruptas flagradas em aeroportos carregando pacotes de cédulas de dinheiro, com finalidades escusas. Este dinheiro confiscado, representa, entre outros, a imoralidade de certos cidadãos, a forma desonesta e ilegal de obtê-lo, sem falar na finalidade a que se destina. O pai de família deveria discutir estes aspectos com seus filhos, mostrando o malefício que tal ato traz para a sociedade. De outro lado, ao conversar sobre o surgimento do negócio, com certeza não escapará a questão do aporte de recursos financeiros. Quanto dinheiro não foi necessário para construir o patrimônio ou o negócio familiar. A partir deste enfoque poderá ser mostrado que a geração de lucro é algo necessário e não pecaminoso, pois o montante de ganhos poderá permitir que a empresa se desenvolva, cresça e possa investir em novos projetos ou em pesquisa e desenvolvimento de produtos e serviços.
Ao participar de uma reunião, onde os números são analisados, o jovem deveria saber pelas conversas mantidas com o pai, que o capital inicial provavelmente é oriundo de economias e muito esforço realizado por quem criou o negócio. Ao ver na linha de lucros um Demonstrativo de Resultados, o herdeiro não pensará em quanto a família ficará mais rica com uma eventual distribuição de lucros, mas sim qual o fôlego que o negócio terá para investir em modernização, pesquisa e desenvolvimento, expansão dos mercados, etc.
O dinheiro igualmente refletirá a responsabilidade social da empresa. Através dos relatórios financeiros os jovens terão a oportunidade de detectar qual é a responsabilidade social do negócio da família. Poderão ,se for o caso, analisar para onde o dinheiro "social" é canalizado, e questionar ou comentar sobre a postura do negócio em relação aos programas ESG. Ao analisar os relatórios relativos aos resultados, os herdeiros deverão saber detectar se os recursos utilizados nas operações, sejam eles de prestação de serviços ou industriais, estão sendo bem empregados. Estamos falando das margens (brutas, operacionais) que os negócios alcançam para poderem se desenvolver de maneira saudável. Mais uma vez as margens são interpretadas por números e indicadores que, na realidade, refletem muitas outras qualidades ou problemas nas organizações. Ensinar apenas a leitura dos números de um relatório aos filhos pode ser um exercício inócuo. É importante ensinar aos filhos, as tantas qualidades que são expressas pelos números e como é importante ler com atenção e saber interpretar o seu significado.
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