
Quem nunca ouviu na vida acadêmica a seguinte frase: " O empreendedor de tanto focar em sua árvore deixou de olhar para a floresta e faliu! Mesmo existindo há várias décadas, este pensamento é mais atual que nunca. Mas vamos dos idos de 1950 ou até antes, até o surgimento da quarta revolução industrial, a chamada Economia 4.0. Naquele período o empreendedor não media esforços para ter elevados ganhos, ganhar grandes fatias de mercado, faturar cada vez mais e cortar custos onde lhe era possível. Seu grande pilar era o seu produto ou serviço. Era isso que importava. O empreendedor esquecia de olhar ao seu redor e observar o que os concorrentes estavam fazendo, analisar as novas tecnologias além de acompanhar as novas teorias de administração que estavam em debate e sendo introduzidas nas diferentes organizações. O consumidor igualmente era algo turvo em sua visão. Bastava convencer o consumidor a adquirir o seu produto que isto já era o suficiente. Para tanto os mais diversos meios de marketing e publicidade eram criados para convencer o cliente a comprar o que lhe era ofertado além, é claro, de buscar desenvolvimento de produtos que superavam em preço e atributos os da concorrência. O consumidor final, devia ser influenciado e sua opinião ou discernimento não eram levados em conta. Em resumo, grande parte dos empresários tinha sua opinião sobre os seus próprios produtos, olhando ao seu redor com desdém e não detectando como a floresta estava se modificando.
É muito interessante observar como o desenvolvimento tecnológico e, em especial dos meios eletrônicos e de comunicação, foram responsáveis por grande mudanças ocorridas nos últimos anos. Estamos vivendo hoje numa época disruptiva, onde a revolução 4.0 se desemvolve de forma sorrateira mas certeira. De repente as coisas estão aí e utilizados por muitos: bitcoins, metaverso, inteligência artificial entre outros. Graças ao uso dos telefones celulares e acesso aos incontáveis aplicativos colocados à disposição gratuitamente, o comportamento dos consumidores se transformou como nunca antes visto. As exigências em relação aos produtos disponíveis mudaram radicalmente. Hoje não é mais o simples produto que importa, mas sim como foi produzido, de onde é importado, quais materiais empregados podem ser reciclados, se o descarte acontece no contexto da economia reversa e assim por diante. O consumidor também quer saber algo sobre o grau de consciência que o fabricante tem em relação ao meio ambiente, a questões sociais e de governança.
O público em geral está muito mais preocupado com os mais diversos problemas que afligem os seres humanos, a sociedade e o meio ambiente. Está melhor informado sobre tudo e tenta se informar se a empresa da qual quer adquirir um produto é aderente aos seus valores. Hoje em dia esta tendência está cada vez ser mais vigorosa e, mesmo que um produto seja bem avaliado, outros fatores serão analisados e ponderados pelo consumidor antes de realizar a compra. Hoje o produto em si não é mais certeza de grandes vendas, mas o que tem muita relevância é quem o produz e de que forma.
Portanto, enxergar a floresta é uma condição "sine qua non" para garantir um pouco mais o percentual de sucesso do empresário. Na verdade deveriamos nos perguntar: como podemos agregar valor ao que oferecemos? Queremos apenas faturar e ter lucros ou queremos assumir o compromisso pela conservação do planeta e da natureza? Estamos operando e entregando os nossos produtos de acordo com a expectativa de agilidade, mobilidade e interconectividade? A incorporação de novas tecnologias em relação aos produtos e meios de produção é uma constante? O consumidor fica tranquilo consumindo os nossos produtos?
Retemos os talentos? Nossos funcionários participam de nossos objetivos? A gestão continua sendo piramidal ou adotamos novos modelos para administrar nossa empresa? Somos uma empresa transparente em relação a todos os stakeholders? Prevalece a ética em todas as nossas ações e negócios? Esta gama de questões precisam fazer parte do cardápio do dia a dia da administração das organizações atuais. É um emaranhado desafiante que nos coloca constantemente à prova. Fechar os olhos para a floresta aumenta, em muito, nosso risco.
Thomas Lanz / Wellington Barreto
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