Os vários capitais da família empresária
Estudos e estatísticas têm mostrado que o patrimônio construído com muito esforço e dedicação por um empreendedor pioneiro se esvai em geral em duas décadas nas mãos de seus herdeiros. As explicações para tal realidade são várias, entre as quais a falta de habilidade para administrar o patrimônio, conflitos familiares em relação à herança, diluição do capital causado pelo crescimento da família e assim por diante.
Vamos deixar de lado o patrimônio (capital financeiro) de uma família e falar de outros "capitais" que, se bem cultivados, podem ser um esteio muito importante para a longevidade dos negócios e empreendimentos familiares. Estamos nos referindo ao capital humano, intelectual, social e espiritual de um grupo familiar.
Vamos falar no capital social. A habilidade social deverá ser cultivada pelas gerações mais velhas e transmitida aos mais jovens, para que eles aprendam e se interessem por questões familiares e assuntos de negócios. A resolução de divergências também deverá ser tratada de forma civilizada e o consenso deverá ser almejado. Todos estes aspectos podem ser mostrados e ensinados aos mais jovens. Os membros de muitas famílias discutem em conjunto o quanto querem abrir mão de suas fortunas para canalizar recursos a projetos sociais. Um capital social bem trabalhado evitará muitas disputas futuras, pois a família aprendeu a trabalhar, discutir e decidir em conjunto sobre as mais diversas questões. O conflito poderá ser mitigado antes que se transforme em confronto destruidor.
As famílias igualmente devem zelar pelo seu capital intelectual. A troca de conhecimento entre seus membros, seja de qualquer assunto, pode ser muito enriquecedora. A experiência de vida dos mais velhos em âmbito dos negócios e outras esferas deverá ser transmitida aos mais jovens. Atenção para a formação acadêmica deverá ser dada para que cada membro da família atinja o máximo que puder dentro de seus limites e possibilidades. A disseminação de conhecimentos adquiridos em qualquer área é muito bem vinda. Neste contexto a governança familiar deverá ser muito bem cuidada e transmitida assim como o próprio conhecimento dos negócios.
Cada família deverá zelar para que seus membros tenham um forte senso de identidade pessoal separado do sucesso financeiro dos negócios familiares ou da projeção do sobrenome. Isto faz parte do capital humano e infelizmente assistimos a muitos fracassos financeiros e pessoais de indivíduos que se debilitaram por querer caminhar apoiados em algo não construído por eles. Nome e dinheiro ganho por outros não são bons indicadores de sucesso. Dar apoio a cada membro da família que busca o seu próprio trabalho em qualquer área que seja é muito alentador.
Talvez o capital mais difícil de ser entendido é o capital espiritual. Não estamos falando de assuntos de religião mas sim nos referindo aos valores e princípios deixados como legado pelos antepassados. Estes devem ser muito bem preservados e transmitidos de geração em geração. Não será o dinheiro que manterá uma família unida mas sim os seus valores. Estes deverão ser transmitidos de geração em geração. Podemos também mencionar que a história da família e de seus membros faz parte do capital espiritual da família e deverá ser relatada aos jovens com frequência. Humildade e gratidão deverão guiar todos os membros de uma família empresária.
Finalizando ainda gostaríamos de falar sobre alguns aspectos que podem ser corresponsáveis pela destruição do capital financeiro. As novas gerações muitas vezes não se conscientizam sobre a dificuldade que foi criar o patrimônio em mãos da família. Por vezes, a segunda e terceira geração não têm o mesmo ímpeto, motivação e criatividade para manter e criar mais
riqueza. Nem todos herdeiros obrigatoriamente terão a inspiração empreendedora. Para muitas famílias falar em riqueza e dinheiro ainda é um tabu e o que deveria acontecer é exatamente o contrário.
As famílias gastam por vezes muito dinheiro para manter e ampliar o seu capital financeiro. De outro lado perguntamos, o quanto elas gastam para fortalecer os capitais qualitativos que no final das contas são muito importantes para assegurar a longevidade patrimonial de uma família.